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domingo, 1 de maio de 2011

DIA DE JOGO NA ABADIA

Efigênio Moura


Na sexta feira passada, 29 de abril, quando passava pela Rua Paulo Nunes, Maicon Suélio, 12 anos, filho de Damiana Corrimão ouviu de uma televisão ligada, o locutor em voz esfuziante anunciar:

‘ Alô! Alô amigos do Brasil! Tudo pronto pra começar o maior espetáculo do ano. ’

Atento a voz, procurou através da audição de onde vinha o som, era da casa de Dona Vandira.
Maicon agoniou-se. Tinha hora para chegar em casa. Levava uma trouxa de roupa suja para sua mãe lavar, mas, ia começar o maior espetáculo do ano e com certeza não dava tempo dele chegar lá na Rua Bernardina Alcântara, na Vila Popular onde morava.

- Eita fébi, vai dá tempo não!!!

Dava não. Aproximou-se da casa de Dona Vandira, sabia que se pedisse a ela pra assistir ao espetáculo, ela não abriria a porta pra um desconhecido, mas...

- Nessa hora é tudo longe. Os bar, as casa dos amigos..

Maicon suava e olhava para o tempo, tinha que chegar até o meio dia e ainda tomar banho pra ir ao colégio. O sol fazia gracejos com Monteiro. E o locutor abria a voz...

‘ Não percam daqui a pouco você vai ver um espetáculo único, onde o mundo todo vai parar pra assistir... ’

Maicon tinha certeza que o mundo todo era Monteiro, duas ruas de Zabelê e toda Campina Grande. Foi no Zépa, o Zé Pinheiro, que ele teve o primeiro contato com a maior paixão de sua vida e desde aquele tempo, sempre que ouvia qualquer menção sobre essa paixão, ficava meio que anestesiado, sexta foi um dia desses.

Aproximou-se da janela e ouviu o som da televisão, tentou ouvir o hino do Campinense Clube ou os gritos da Facção Jovem. O locutor acunhava:

‘ Muita gente bonita e ansiosa para acompanhar este grande evento, na Abadia de Uesti Minster..., o enlace matrimonial de Willian e Keiti Midélton...’

( Duas palavras novas: enlace e matrimonial. )


- Deve ser essas coisas qui a televisão inventa, locutô de jogo é amostrado qui só a gota. Agora, eu pensei qui o jogo era contra o Treze, már né não, é com o zistrangêro, um tá de Uéstimisti...conheço não.


Desde quando ainda era menino e saia do Zé Pinheiro, com uma caixa de isopor pendurada no pescoço para ir até o Renatão, na Boa Vista, vender dindim nos treinos do Campinense que ele se apaixonou pelo clube cartola. Seu dia de maior alegria foi quando foi promovido a vendedor no Amigão, o jogo era o Campinense contra o Esporte de Patos, em momento nenhum parou de assistir ao jogo.
Depois de 5 partidas, fora demitido. Ato que coincidiu com sua vinda para Monteiro, e agora se encontrava naquele dilema, em frente a uma casa desconhecida, uma rua diferente e uma voz aparentemente familiar:

- Será Fábio Brito? Oxe, e esse jogo a essa zóra ?

De tanto desespero, resolveu colocar a trouxa de roupa bem próximo à porta da casa de Dona Vandira, e ficou a espreita de algum grito de gol.
Até que a porta da casa abre, ele levanta-se, Dona Vandira sai.

- Tá fazendo o quê ai minino?
- Tava escutano o jogo do Campinense.
- Oxe! E onde tem jogo.

Ele afastou um pouco tentando ver a televisão e apontou pra sala. Dona Vandira afastou-se.

- Que jogo o quê menino, o que está passando é o casamento real.
- O casamento real?
- É na Europa.
- Real?
- É. Nos estrangeiro.

Maicon Suelio olhou de soslaio e com desprezo para a exibição, agachou-se pegou a trouxa de roupa colocou em cima da cabeça e murmurou:

- Tá cá gota. O Campinense jogano contra o Real Madri. Time bom da gota! Duvido qui  Rinaldo sabe disso!

E foi caminhando satisfeito rumo à rua onde morava, imaginando o  
Campinense entrando naquele campo, o Abadia...

 

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