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terça-feira, 17 de maio de 2011

População de Caetité (BA) faz vigília e impede entrada de urânio na cidade

Pelo menos duas mil pessoas se reuniram em vigília para impedir o recebimento de material radioativo pela mina de Caetité, município a 757 km de Salvador. A mobilização começou por volta das 17h de domingo (15) e durou até as 2h da madrugada desta segunda-feira (16).

Com a vigília, as nove carretas que transportavam o material de São Paulo para a unidade de beneficiamento de urânio, na região sudoeste do estado, foram impedidas pela população de seguir viagem e tiveram de retornar ao município de Guanambi, a 45 km de Caetité. Até as 11h desta segunda (16), elas permaneciam no posto da Polícia Militar da região.
 
“A população está de prontidão para fazer novamente a barreira humana e não deixar o caminhão passar por aqui”, afirma o padre Osvaldino Barbosa, da Comissão Paroquial do Meio Ambiente de Caetité. A mobilização popular foi convocada por movimentos sociais como a Comissão Paroquial do Meio Ambiente do município, a Comissão Pastoral da Terra e o Movimento Paulo Jackson – Ética Justiça e Cidadania.

Empresa tranquiliza

De acordo com a INB (Indústrias Nucleares do Brasil), as carretas estão transportando 90 toneladas de concentrado de urânio, de propriedade da Marinha brasileira, o mesmo material que é produzido na mina, com objetivo de criar um novo reservatório e retomar a capacidade de produção máxima. Em 2010, a unidade de mineração não atingiu as 400 toneladas da meta anual, chegando apenas a 180 toneladas.

"Nós tivemos frustração na produção e solicitamos da Marinha, que tinha o material em reserva. O que aconteceu é um mal-entendido. O comboio está levando concentrado de urânio, não lixo atômico, como pensa a população", comenta o presidente da INB, Alfredo Tranjan.

O transporte partiu do Centro Experimental de Aramar, no município de Iperó, em São Paulo. Tranjan explica que a carga será reembalada em Caetité para depois ser enviada, junto à produção local, para a Europa, onde será enriquecida. O objetivo final é o abastecimento das usinas nuclares de Angra 1 e Angra 2, que ficam situadas no Rio de Janeiro. Segundo a INB, o plano de transporte foi comunicado ao Ibama e recebeu aprovação da Comissão Nacional de Energia Nuclear. "Caetité é a única mina brasileira que produz urânio, por isso o procedimento só pode ser realizado lá", diz Tranjan.

Medo

O padre Osvaldino argumenta que o processo para reembalar o urânio é nocivo para o meio ambiente e para a população. “Eles dizem que o processo só pode ser feito aqui, mas isto está trazendo consequências graves, como poluição da água e incidência de câncer nas pessoas”, informa. Ainda segundo relato do padre, a população está insegura se há real ausência de lixo atômico na carga.

O presidente da INB afirma que terá que planejar alguma metodologia de conversa com a população, para tentar solucionar a divergência.

Relatório do Greenpeace

Em outubro de 2008, o Greenpeace encontrou contaminação radioativa em amostras de água usada pela população, coletadas na área de influência direta da mineração de urânio no município de Caetité.

A coleta das amostras de água para consumo humano e animal foi feita por uma equipe da organização ambientalista em abril de 2008, em pontos localizados dentro de um raio de 20 quilômetros ao redor da mineração de urânio da INB em Caetité.

As amostras foram encaminhadas a um laboratório independente credenciado no Reino Unido para a realização de análises. Pelo menos duas amostras de água apresentaram contaminação por urânio muito acima dos índices máximos sugeridos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama).

A amostra de água colhida de um poço artesiano a cerca de oito quilômetros da mina apresentou concentrações de urânio sete vezes maiores do que os limites máximos indicados pela OMS, e cinco vezes maiores do que os especificados pelo Conama. Outra amostra, coletada de uma torneira que bombeia água de poços artesianos da área de influência direta do empreendimento da INB, estava com o dobro do limite estabelecido pela OMS e acima do índice Conama.

G1

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