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sábado, 11 de junho de 2011

AUTOESTIMA – UMA LEITURA SAUDÁVEL


RENÚNCIA: DESENCANTO PELO OBJETO DE DESEJO
 Inácio A. Torres

Renunciar é um verbo de significados diversificados, que conduzem à inúmeras interpretações. Renuncia-se ao poder, aos bens materiais, ao casamento, uma crença, um cargo político, a vida, um grande amor, a fé, honrarias etc.. Há quem diga até que a renúncia “compara-se” ao suicídio.
Por outra parte, deixar de renunciar aquilo que atormenta, que causa sofrimento, dor crônica é praticar uma auto-tortura, uma auto-flagelação. E não é exagero dizer-se até que é “suicidar-se” lentamente. Daí a expressão: a renúncia é a morte do homem público (do político). Diríamos nós: é a finitude de mandato – já que a diplomação do político é temporária.
 Uma coisa é certa. Assim como o suicídio, o ato de renunciar não é um ato de coragem nem de covardia, e sim um ato de desencanto e/ou de desespero. Está provado que quase sempre todo aquele que renuncia ou suicida-se o faz quando encontra-se desesperado, desencantado,  perdeu o sentido do cargo ou da própria vida. Getúlio Vargas serve de ilustração para essa assertiva.
Conforme a história, Getúlio Vargas foi reeleito em 1913 deputado estadual pelo Rio Grande do Sul, todavia renunciou em sinal de protesto a Borges de Medeiros, o então governador daquele estado. Quarenta e um anos depois, pressionado por interesses econômicos estrangeiros com aliados no Brasil, como Carlos Lacerda e Adhemar de Barros, o mesmo Getúlio diante a indesejável situação política da época, para evitar a renúncia, atira contra o próprio peito e “sai da vida para entrar na história” como diz em sua carta-testamento.
 Na política, às vezes a renúncia é também uma estratégia. Vejamos esse trecho do diálogo, acontecido num quarto do hospital israelita Albert Einstein, em 1991, entre Jânio Quadros e o seu neto, extraído do livro “Jânio Quadros: memorial à história do Brasil”, de autoria de Eduardo Lobo Botelho Gualazzi e Jânio Quadros Neto.
“Quando assumi a presidência, eu não sabia da verdadeira situação político-econômica do país. A minha renúncia era para ter sido uma articulação: nunca imaginei que ela seria de fato aceita e executada. Renunciei a minha candidatura à presidência em 1960. A renúncia não foi aceita. Voltei com mais fôlego e força. Meu ato de 25 de agosto de 1961 foi uma estratégia política que não deu certo, uma tentativa de governabilidade. Também foi o maior fracasso da história republicana do país, o maior erro que cometi”.
Ainda sobre a renúncia. O ser humano tem todo o direito de renunciar diante de uma situação conflituosa. Uma situação de foro íntimo, entendida no âmbito do Direito,  como uma razão muito particular que a pessoa possa ter para tomar determinada atitude. Às vezes trata-se de algo indefinível, um ente que ninguém vê, mas que machuca, dói, maltrata, magoa. E quando alguém assim procede, não compete aos outros fazer julgamentos. Aliás quem tem eticidade e caráter elevados respeita essa posição.
Renuncia-se, como vimos, diante de vários acontecimentos sejam de ordem social, política, religiosa, amorosa. Há também momentos em que a renúncia configura-se como uma atitude de cuidado, de zelo consigo mesmo e com os mais próximos, sobremaneira cônjuges e filhos, ou diante de compromisso político partidário previamente assumido. O afastamento do ministro Palloci é um exemplo desses.  Aliás, diante de todo problema, o ser humano só tem três saídas: enfrentá-lo, fugir dele ou simplesmente ficar indiferente.
Mira y Lopes menciona que o amor, o ódio, a ira e o dever são os quatro gigantes da alma.  Pois bem, sem esses quatro gigantes a vida não tem sentido para os humanos e, em especial, para os políticos fascinados pelo poder, pelo domínio. Alguns bioeticistas dizem que o conflito de interesse dos humanos pode ser dimensionado em três expressões: eu quero mas não posso; eu posso mas não devo e eu posso mas não quero. Essa trilogia traduz todos os nossos dilemas, inclusive o ato de renúncia, comparado por alguns, com foi dito, ao suicídio.
Em síntese: renunciar pode ser entendido como um gesto de desencanto pelo objeto de desejo (um cargo, uma idéia, uma crença, um amor, em ente qualquer, etc). Portanto, cuidado ao julgar um renunciante, pois quem sabe se você, mesmo inconscientemente, já não tenha praticado muitas renúncias!? 

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