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domingo, 15 de abril de 2012

A ENERGIA DA MÁGOA NAS RELAÇÕES SOCIAIS


Iara da Silva Machado

oescrevivente.blogspot.com
O aprendizado da capacidade amorosa é o nosso reconhecimento da ignorância sobre essa virtude grandiosa.

A maior parte das criaturas se comporta como se o amor não fosse um sentimento a ser cada vez mais aprendido e compreendido. Agem como se ele estivesse inerte na intimidade humana e passam a viver na expectativa de que um dia alguém ou alguma coisa possa despertá-lo em toda a sua potência, numa espécie de fenômeno encantado.

A amorosidade manifesta se torna fonte inesgotável de doação, por isso, se diz que aquele que ama sempre tem algo para ofertar.

Confundimos na qualidade de aprendizes a energia do amor com outras formas de atração e paixão, chegando muitas vezes a negar o fracasso amoroso, durante anos e anos, para não admitir diante dos outros nossas escolhas precipitadas e equivocadas.

Não percebemos, muitas vezes, oportunidades imensas de caminhar pelas veredas do amor, porque não renunciamos a necessidade neurótica de ser perfeitos, ficando preso a uma pressão torturante de infalibilidade.

Perdemos excelentes momentos de crescimento pessoal, queixando-nos cotidianamente de que estamos sendo ignorados e usados, porém sem tomar atitude alguma. Deixamo-nos magoar pelos outros e acabamos magoando também a nós mesmos. Reagimos as ofensas ou indiferença, experimentando sentimentos de frustração, negação, autopiedade, raiva e imensa mágoa. Culpamos as pessoas pelos nossos sofrimentos, verbalizando as mais diversas condenações, e em seguida, esforçamo-nos exaustivamente para não ver que a origem de nossas dores morais é fruto de nossa negligência e comodismo.

Nós nos “barateamos” quando colocamos nossa autovalorização em baixa na espera de seduzir e modificar seres humanos que nos interessam.

Vivemos comumente desencontros na área da afetividade, por desconhecermos os processos psicológicos que nos envolvem, o que nos faz viver supostos amores.

A paixão, que muitos chamam de amor, raramente atravessa seu estágio embrionário. Aos poucos, perde a força motivadora por não possuir raízes profundas nos verdadeiros sentimentos da alma.

Quando a desilusão desfaz a paixão é porque desgastou-se o estado de irrealidade. Paixões acontecem quando usamos nossas emoções sem ligá-las aos nossos sentidos mais profundos.

Quase sempre acreditamos que o fracasso conjugal é um antônimo do sucesso matrimonial, esquecendo-nos, contudo, de que o êxito, em muitas circunstâncias, está do outro lado do que denominamos ruína afetiva. Aprendemos quem somos e como agimos convivendo com os defeitos e qualidades dos outros. É justamente nos conflitos de relacionamentos que retiramos as grandes lições para identificar as origens de nossas aflições.

É profundamente irracional nutrir a crença de que nunca seremos desapontados e de que sempre seremos amados e entendidos plenamente por todos.

Portanto, é importante admitir a mágoa, quando ela realmente existir, para que possamos resolver nossos conflitos comportamentais.

A maneira decisiva de atingirmos o equilíbrio interior é aceitarmos nossas emoções e sentimentos como realmente eles se apresentam, pois, deixando de ignorá-los passaremos a nos adaptar firmemente à realidade dos fatos e dos acontecimentos que estamos vivenciando.

O que não pode ser visto não pode ser mudado. Os mecanismos inconscientes dos quais nos utilizamos para nos enganar são em grande parte imperceptíveis, principalmente aqueles que não iniciaram ainda a autodescoberta do mundo interior, através do autoaprimoramento espiritual.

Mágoa não elaborada se volta contra o interior da criatura, alojando-se em determinado órgão, desvitalizando-o. Mágoa se transforma com o tempo em rancor, exterminando gradativamente nosso interesse pela vida e desajustando-nos quanto a seu significado maior.

Sentimentos não morrem; poderemos enterrá-los, mas mesmo assim continuarão conosco. Se não forem admitidos, não serão compreendidos e, consequentemente, estarão desvirtuando a nossa visão do óbvio e do mundo objetivo.

 A mágoa nas relações sociais do âmbito familiar ao trabalho, da vida na comunidade a ação religiosa, em todas as esferas de ação do homem e da mulher pode ser vista e entendida como uma mensageira da possibilidade de curar pontos cegos das convivências e possibilitar o reencontro de almas para uma vida mais leve na alegria de viver e na gratidão da existência.

Adaptado do livro As dores da alma. Francisco Neto, HAMMED, 1998

Iara da Silva Machado (Psicóloga colunista do garimpandopalavras e pbnoticias.com)

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