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sexta-feira, 4 de maio de 2012

As limitações dos idosos devem ser respeitadas por todos os humanos

Inácio A. Torres

D. Dom-dom tem 89 anos e atualmente mora sozinha numa pequena casa da zona rural de uma cidade do interior da Paraíba. Como a maioria dos idosos, é portadora de deficiências visual e auditiva e, embora ande com dificuldades, ainda tem independência para realizar as atividades da vida diária.

Pois bem, convidada pela Agente Comunitária de Saúde que atua no sítio onde mora, fora a cidade participar de uma festa de idosos onde se comemorava a conclusão dos trabalhos desenvolvidos por alunos da área de saúde em um projeto de extensão universitária bem sucedido no âmbito da gerontologia.

Presentes estavam, além de idosos de vários sítios, a professora coordenadora do projeto, os alunos, familiares, convidados e a diretoria do clube que emprestara as acomodações.

Durante a festa, uma vez cortado, cada convidado poderia servir-se do lindo bolo cuja cobertura era vermelha e branca tendo ao centro uma vela em forma de um coração de mesmas cores. Deficiente visual, D. Dom-dom fora até à mesa e começara a comer a vela. Muitas pessoas vendo tal atitude simplesmente riam, mas nenhuma teve por compaixão ou educação, a coragem de comunicar a bondosa senhora. Preferiram soltar risos de zombaria.
Mas, como as pessoas são diferentes, para sorte de D. Dom-dom, um estudante advertira-lhe falando alto no seu ouvido:

- D. Dom-dom isso não é fatia do bolo, é uma vela. E ela na maior serenidade responde mais alto ainda:

- “Pois meu filho, sinceramente, eu achei tão docinho...” e voltando-se para o jovem completou: 

- “Você tem certeza mesmo que isso é uma vela!” Ambos riram, e sorrateiramente, o rapaz retirou a vela das mãos de Dom-dom e a colocou em seu devido lugar.

A festa continuava animada. Chegara a hora da distribuição de picolés. D. Dom-dom é agraciada com um que, ao receber taca-o na boca, sem ao menos retirar a embalagem de papel. Dessa vez, tal gesto fora despercebido e D. Dom-dom escapara dos vesgos olhares de algumas pessoas inconvenientes, pois o mesmo jovem universitário aproximara-se dela e falara menos alto:

- “A senhora precisa tirar o papel, pois só assim conseguirá chupar o picolé”, ao que ela reclama:

- “Agradeço-lhe, meu filho, mas por que você não dá a informação na hora exata, sempre chega atrasado?! Eu quase comia papel e tudo”.

Já no finalzinho da comemoração, quando D. Dom-dom quase cairia em mais uma situação embaraçosa, ao confundir o seu telefone celular com o controle remoto do som que se encontrava sobre uma mesa, o seu jovem amigo chega novamente e em tempo para lhe amparar.
 
Desta feita, quase numa rapidez de mágico, antes de D. Dom-dom ele apanha o celular, entrega-lhe e sorrindo afasta-se para observar melhor a pose elegante daquela senhora idosa que, desligada de algemas sociais, esquece de tudo para atender alegremente o seu bisneto de mais de vinte anos dizendo bem alto, porém falando com o coração: “Olá, Zeca, como vai meu querido bebê?”. Nesse momento os presentes olharam para D. Dom-dom admirados, mas não soltaram os risos de gozação como na hora da partilha do bolo. E a bondosa senhora com independência e liberdade falara à vontade e bem descontraída, e sempre soltando gargalhadas espalhafatosas.

Pensata:
A velhice é a última fase do calendário humano. Para chegar bem nela é preciso um bom planejamento, que começa na infância, passa pela adolescência e chega à maturidade. Depois dos sessenta, já é a velhice e é aí que você vai colher os frutos desse planejamento. Se for inteligente, tiver a arte de bem viver, saberá como D. Dom-dom conviver com as limitações próprias do envelhecimento. Caso contrário, poderá mergulhar na melancolia, essa doença tão presente nos dias atuais, sobretudo nos idosos.

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