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sábado, 12 de maio de 2012

MÃE


IARA DA SILVA MACHADO (psicóloga)

Não nasci ainda; aprovisionem-me com água que me embale, ervas que brotem para mim, árvores que conversem comigo, céu que cante para mim, pássaros e uma luz branca no fundo da minha mente para me guiar.
Louis MacNeice, Prayer Before Birth

Na Grécia antiga Deméter era a Deusa Mãe proeminente e tinha a função especializada de presidir sobre todas as formas de reprodução e renovação da vida, especialmente da vida vegetal. Figura complexa e bem elaborada, historicamente ela se situa entre os antigos cultos neolíticos da Grande Mãe – que floresceram na Suméria, na Ásia Menor, no Egito e na ilha de Creta entre aproximadamente 4000 e 1000 a.C – e a era cristã no Ocidente, preservando muitas das características desses cultos anteriores; ela é a deusa da fecundidade, da fertilidade e da regeneração; possui uma identidade mística com sua irmã sombria do mundo avernal, a Rainha dos Mortos; dá a luz um Filho Divino, que permanece como seu jovem consorte em vez de transformar-se em marido ou em alguém de igual maturidade.

O símbolo principal de Deméter era o feixe de trigo e em seus mistérios em Elêusis, uma única espiga de milho. Os simbolismos da flor, do fruto e da semente, que a transforma, verdadeiramente em Nossa Senhora das Plantas. Seu animal sagrado terrestre era o porco, que costumava ser um sacrifício de fertilidade em todo o mundo por causa de seus múltiplos úteros; seu animal sagrado marinho era o golfinho.

O santuário de Deméter em Elêusis, onde seus mistérios eram celebrados, permaneceu ativo durante quase dois mil anos.

Deméter era a Grande Mãe e o mundo inteiro era a sua Criança. O evento essencial nas religiões agrárias era o Matrimônio Sagrado, no qual a sacerdotisa periodicamente entrava em comunhão com o reino dos espíritos no interior da terra para renovar o ano agrícola e a vida civilizada que florescia sobre a terra. Seu consorte era um espírito vegetativo, ao mesmo tempo o seu filho que brotara da terra e o parceiro que iria raptá-la para outro reino, um reino que seria fecundado quando ele, ao morrer, a possuísse. A solução final para a perda de Deméter era tornar sadio o universo no qual a morte se introduzira admitindo-se também a possibilidade de um retorno à vida. O renascimento após a morte era o segredo de Elêusis. No Hades, Perséfone, como a própria terra, toma uma semente em seu corpo e desse modo retorna eternamente a sua extática mãe com o seu novo filho – apenas para morrer eternamente em seu abraço fecundante.

chamabranca.multiply.com
Quando falamos de Deméter conforme era imaginada pelos gregos, deveríamos na realidade falar de duas deusas, não uma. O cerne do mito e do culto a Deméter, era o fato de ela ter perdido sua filha adorada, Coré (significando “donzela” em grego), pranteada por ela, e por fim, reunindo-se novamente a ela. Todas as imagens e pinturas em vasos que chegaram até nossos dias mostram duas mulheres maduras: Deméter e Coré juntas, segurando feixes ou espigas de trigo, flores ou archotes. A intimidade entre mãe e filha ressalta o caráter profundamente feminino dessa religião e constelação mitológica.

Embora Deméter não seja em rigor uma Mãe Terra, pois este título pertence a sua avó, Gaia ou Ge, cujo nome significa “terra”, o seu mito e culto dizem respeito ao que acontece em cima e embaixo da terra. Ela e a filha simbolizam os ciclos dinâmicos da natureza que ocorrem no interior do corpo da terra e, em decorrência do princípio místico de correspondência, também no interior do corpo de toda mulher. (Woolger, Jennifer; Woolger, Roger J. - A Deusa Interior, 2007).

Fazer uma alusão ao mito grego de Deméter é uma forma de perceber como na sociedade pós moderna a relação mãe e filho(a) em níveis saudáveis de manifestação reflete essa cumplicidade amorosa e a intimidade do reconhecimento do divino apresentado a mulher através da face do exercício da maternidade.

Parabenizo a todas as MÃES que foram, que são, que virão a Ser.
Em especial AGRADEÇO a minha mãe Eliete que teve a coragem moral e afetiva de disponibilizar seu ventre oito vezes para gerar crianças e co-criar com DEUS!

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