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segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Autoestima – uma leitura saudável para começar bem o seu dia!



Leiloar a virgindade é prostituir-se?

Inácio A. Torres

Uma jovem catarinense, de vinte anos de idade, estudante de Educação Física, resolveu negociar sua virgindade, utilizando-se de um leilão, promovido pelo site Virgins Wanted – Procura-se Virgens. O idealizador dessa comercialização é o produtor de cinema Justin Sisely.

Na Austrália, país onde a universitária será desvirginada, Sisely produzirá um “documentário” sobre a vida da moça, incluindo no roteiro a perda da virgindade. Conforme a imprensa, para garantir total segurança do casal, corre em sigilo o local e data onde deverá ser consumido o ato. Uma indagação pertinente: Quais imagens desse roteiro, além da cena de uma relação sexual com a perda de virgindade, interessará a platéia, que certamente assistirá o filme, ofertando vultoso lucro para o produtor? No palco da vida, o desempenho dessa moça não parece ser muito curto para merecer a construção de um documentário de divulgação mundial?

O certo é que, no início deste mês (novembro), a jovem, acompanhada do produtor, visitará o Brasil para os acertos finais e, consequentemente, para fazer a divulgação do seu filme. Falando a imprensa, a universitária sempre argumenta que esse seu gesto deve ser visto como uma causa justa e humanitária, pois com a venda de sua virgindade por R$ 1,5 milhão (o vencedor do leilão é um japonês de nome Natsu), ela terá condições para ajudar sua família, seus amigos e doar uma parte do dinheiro obtido com o negócio. 

Ela garante que está bem segura e demonstra firmeza em sua fala. Todavia, ainda tropeça em responder quando acusam-na de estar se prostituindo. Daí porque, sem falso moralismo ou prejulgamentos - e em respeito às brasileiras profissionais do sexo -, entendendo tratar-se de uma questão que, embora antiga seja ainda bastante polêmica, resolvemos fundamentando-se numa consulta literária bem consolidada, construir esse ensaio.

Iniciemos por alguns conceitos básicos. Dentre esses destacamos: lenocínio, que conforme os dicionaristas, significa crime contra os costumes, caracterizado sobretudo pelo fato de se prestar assistência à libidinagem alheia, ou dela se tirar proveito, e cujas modalidades são o proxenetismo, o rufianismo e o tráfico de mulheres. 

Proxenetismo é o tipo de lenocínio que consiste em servir, como mediador, intermediário à libidinagem alheia, favorecendo a prostituição, mantendo prostíbulos ou lugares destinados a fins libidinosos. Proxeneta ou cafetão é aquele que exerce o proxenetismo. Já o rufianismo é a modalidade de lenocínio que, resumidamente, quer dizer aquele que vive à custa de prostitutas, também pode ser considerado um corretor de prostitutas. Exemplos de lenocínio não faltam. A “locadora de mulheres”, que há pouco tempo tentaram instalar em Cajazeiras, tendo sido coibida pela justiça é um deles.

Ficção e realidade

Para ilustrar essas definições recorramos à ficção. Recordemos a novela Gabriela, ela mostrou todos esses tipos. Quem assistiu o seriado, certamente lembrará de Maria Machadão, a cafetã do Bataclan, cabaré que servia de “abrigo” para as moças desvirginadas da cidade, além de outras recrutadas da miséria, pobreza e promiscuidade existentes no lugar. Evocará que alí, também, leiloava-se virgens. Aliás, Machadão orgulhava-se em anunciar uma noitada de leilão de virgem. Também pudera: era lucro alto na certa. 

Nessas noites, os coronéis da cidade produziam-se para irem ao estabelecimento participar da disputa por uma donzela. A cena em que a menor Ina entra carregada em uma bandeja para leilão de sua virgindade, pelos coronéis, é um fato que, embora fictício, por via de regra, corresponde a nossa realidade, diferindo apenas na forma de operacionalização. Nesse capítulo, viu-se a menor Ina ser arrematada pelo pedófilo Jesuino, um coronel grosseiro e estuprador contumaz de D.Sinhazinha, sua esposa. Lamentavelmente, no mundo ainda existem muitos Jesuínos.

Sobre o assunto, há ainda dois conceitos que merecem explicação. O primeiro trata-se da castidade, termo que às vezes utiliza-se equivocadamente. Casto é o homem ou mulher que se abstém de quaisquer relações sexuais. Nunca tiveram relação sexual (oral, vaginal, anal). O segundo é a virgindade, que se constitui em um problema mais de ordem cultural do que fisiológico, orgânico. Refere-se simplesmente à integridade de uma membrana que se encontra na entrada da vagina – o hímen. 

Esse conceito varia de uma cultura para outra. Em algumas tribos africanas, a mulher só deixa de ser virgem quando engravidou e pariu. No Brasil, apesar de o machismo ainda vigorar fortemente, já não se exige tanto a virgindade quanto até as últimas décadas do século XX. A tabuização da virgindade diminuiu muito, mesmo assim, ainda é raro encontrar-se um jovem que prefira, para casar, uma parceira que já tenha se relacionado sexualmente com outro homem.

Acrescente-se que, com os avanços da cirurgia plástica e da tecnologia, hoje há várias formas de se restaurar o hímen perfurado. Esse procedimento cirúrgico recebe várias denominações como, reparo de hímen, reconstrução de hímen e cirurgia do hímen. Todas podem ser resumidas na palavra himenoplastia que é a cirurgia plástica que restaura o hímen.

Nesse contexto, os fabricantes de materiais, instrumentais e equipamentos médicos não perderam tempo e logo criaram um hímen artificial também conhecido como kit virgindade artificial (e popularmente conhecido como hímen chinês ou falso). Trata-se de um tipo de membrana, de uma prótese criada com a finalidade de simular um hímen intacto humano. Os defensores do hímen artificial argumentam com entusiasmo que, “enquanto o procedimento da himenoplastia requer admissão a uma clínica e pode custar caro, o hímen artificial fornece uma maneira muito mais barata e conveniente para se tornar uma virgem outra vez.” 

Como se vê, a virgindade é um tema com implicações nos âmbitos da sexualidade, da cultura, da sociedade, da economia, da saúde, da ética e do direito. Sendo, portanto, preciso muita serenidade e cautela para quem deseja vendê-la ou comprá-la. Um negócio arriscado que a universitária, natural de Itapema, SC e o milionário japonês Natsu irão enfrentar, certamente com uma confiança limitada, um medo aparente e um sentimento de culpa que haverá de brotar em futuro próximo. E mais: as interferências no psiquismo de ambos, as quais, mesmo que tentem a todo custo camuflar, exteriorizar-se-ão através de dores, que apesar de invisíveis, lhes machucarão e lhes magoarão para o resto da vida.

(Esse ensaio será concluído na próxima coluna - pbnoticias.com e no garimpandopalavras)

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