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domingo, 3 de fevereiro de 2013

Bar Encontro dos Mentirosos em Patos serve caviar



Marcos Eugênio



Mentira tem perna curta, diz o adágio popular. Mas para um público bem diversificado, empresários, políticos, funcionários públicos, vendedores e uma infinidade de cidadãos comuns, que gostam de compartilhar um mesmo espaço, ela tem sido importante norteador das conversas que embriagam momentos de lazer, dor de cotovelo, quebra da rotina.

“Bar Encontro dos Mentirosos”. Este é ponto onde rola muita mentira, como o próprio nome sugere, mas sem a maldade, sem o prejuízo daquelas causadas, por exemplo, pelos políticos de carteirinha. Os assuntos pra lá de “cabeludos” nas conversas, entre uma pinga e outra, nas rodadas de cerveja versam sobre futebol, aventuras dos narradores, casos amorosos e por vai solta a imaginação de todos.

Natural de São Mamede, Walter Candeia, 65 anos, a idade é verdadeira, bate com os dados de seu RG, há 12 anos abriu o estabelecimento na Rua Luiz José, próximo à Igreja de Nossa Senhora de Fátima, no Belo Horizonte. Diz que diferentemente de seus clientes, não mente jamais, apenas os recebe com toda a cordialidade possível. Apesar de ser dono do bar, quem manda mesmo no recinto é sua esposa, segundo nos informaram alguns presentes.

Muitas histórias marcam esses 12 anos do Bar Encontro dos Mentirosos. Uma das mais lembradas por Walter, ex-jogador de futebol, tendo defendido nos anos 78 e 79 o Central de Caruaru é sobre um amigo seu, que tomava banho no rio que corta a cidade de Pombal e em certo momento sua aliança de casado caiu do dedo. Apesar dos inúmeros mergulhos dele e outros colegas o compromisso de vida conjugal que valeria até que a morte o separasse da esposa, não foi encontrada.

O tempo passou. Vários meses depois, enquanto peneirava areia que havia retirado do rio para uma reforma em casa, o amigo de Walter encontrou a aliança. Confirmou que era de sua esposa devido as iniciais do nome dela gravadas na parte interna do adorno. “O pessoal que escuta essa história diz que é mentira, mas foi assim que ocorreu”, garante o dono do bar que só fecha uma vez por ano, no dia 1º de abril.

Para dar mais visibilidade a seu estabelecimento comercial, o senhor Walter contratou um professor para dar dicas de como mentir de maneira que passe por verdade. Trata-se do agropecuarista e funcionário público Valmir Aires, que vem se especializando a cada dia na arte de mentir.  Pensa até em fazer um mestrado nessa área no exterior.

O bar abre às 7h da manhã. Ao meio-dia os clientes são lembrados por um sonoro apito semelhante ao canto do galo, de que é o momento de fechar as portas, que voltam a ser reabertas às 14h, indo até às 18h30, quando o canto ecoa assustando os fregueses. “Geralmente, após avisarmos que vamos fechar, damos mais 15 minutos de tolerância”, informa Walter.

Frequentador assíduo do Bar Encontro dos Mentirosos, Mozart Marinho diz que há um tipo de cliente que aparece constantemente no bar. Trata-se de homens separados, que começam a tomar pinga e debulhar suas amarguras, a chorar no ombro do amigo que pacientemente lhe escuta. “Realmente é um local autêntico. Muito agradável e variado cardápio, o que atrai cada vez mais clientes”, diz Mozart.

Cardápio

O cardápio do bar foi elaborado por Seu Walter caprichosamente. Dentre os petiscos estão o peixe, que na verdade são rodelas de pepino. Se o cliente pedir ovos de codorna irá à mesa seriguela estourada. Se quiser algo mais sofisticado pode solicitar ao dono do estabelecimento um caviar de baiano (pipoca), uma das especiarias da casa, que não recebe cartão de crédito e não pendura conta. Em meio à gozação a cerca do cardápio, que não oferece atrativos refinados, o local é bastante movimentado, sendo ponto de encontro para bate-papo dos amigos, que levam à risca o nome do bar e buscam renovar seu repertório de mentiras.

Palpite

Um dos atrativos do Bar Encontro dos Mentirosos é o jogo do bicho. No local os clientes buscam a sorte diariamente e os palpites de Seu Walter, bastante solicitado, inclusive por clientes até do Paraná, como nos informa. “Há um senhor que vem do Paraná em busca de meus palpites”, comenta Walter, decifrador de sonhos, números da loteria, apesar de nunca ter ficado rico, algo que não impede as pessoas de procurarem seus serviços de vidente.  Além do bar, dizem os fregueses, Walter possui uma produção de uva e coco em seu quintal, sendo que toda a safra da uva é exportada para a Argentina, destinada à fabricação de vinho. O coco é direcionado para o mercado local.

Entre tantas e bem boladas mentiras, sempre de forma sadia, a rotina do Bar dos Mentirosos segue alegrando o dia-a-dia de muitos patoenses, que gostam de uma branquinha ou de uma loira gelada. 

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