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sexta-feira, 8 de março de 2013

Cuidemos mais do coração das mulheres!



Inácio Andrade Torres



Esse assunto envolve um quadrilátero que muito contribui para a promoção da saúde humana, composto dos fatores: a fisiologia, a emocionalidade, a espiritualidade, e a intelectualidade. Bem equilibrados esses fatores concorrem verdadeiramente para a formação de uma mente e de um corpo saudáveis.

Como estamos vivenciando o 8 de março, Dia Internacional da Mulher, julgamos pertinente, construir um texto que certamente servirá para uma reflexão sobre a dor feminina, uma questão de gênero pouco debatida na família, na escola e na sociedade. Aqui nos reportaremos à dor como uma experiência sensitiva e emocional desagradável relacionada real ou potencial dos tecidos. A dor como sinal de alerta que avisa a existência de algo errado no funcionamento do corpo, logo aconselhando cuidados.

De início, expliquemos. A dor humana tem as seguintes dimensões: física, psíquica, social e espiritual. A psíquica é a dimensão do sofrimento que pode ter causas associadas à saúde física, mental, social, financeira, espiritual e emocional. A dor psíquica, embora tenha causa invisível, dói muito, machuca, fere, maltrata. Essa dor tem como agentes desencadeadores, por exemplo: o enfrentamento de uma doença crônica, torturas psicológicas, perdas, injustiças, culpa e até medo da morte.

No caso das mulheres, a dor psicológica pode originar-se de violências sofridas na infância e adolescência que podem estender-se até a maturidade e à velhice. A dor da violência sexual, por exemplo, fere o corpo, porém atinge mais a alma, destrói sonhos e acaba com a dignidade da mulher. Para reforçar esses argumentos, utilizaremos a seguir um texto de Onilza Braga que, embora escrito em 1994, realisticamente, comprova a violência contra a mulher na legislação. Situação que, graças a Lei Maria da Penha, tem se transformando, na medida em que diminui injustiças, ampara mulheres agredidas e oferece segurança aquelas que denunciam corajosamente maus tratos. Diz Onilza:

“Em uma cidade do interior de Minas, ficou viúva a mulher de um funcionário da prefeitura. Ela vivia com ele há mais de dez anos e tinham oito filhos, além de três filhos dele com outra, que ela também criava. Mas não eram casados oficialmente. No mesmo dia do enterro, três amigos dele, preocupados com a mulher e as crianças, que eram muito pobres, resolveram tomar providências para que ela recebesse a pensão do INPS como companheira dele. Mas isso não poderia ser assim, de graça, sem mais nem menos. Foram fazer uma vistoria na casa, para ver se ela merecia a pensão!

Voltando, trouxeram o parecer: ‘Ela merece a pensão, sim. E vamos trabalhar para ajudar. Vimos tudo. Não tinha nenhuma roupa de molho no tanque, a casa estava arrumada, as camisas e calças dele penduradas em cabide num cordão que passava de uma parede a outra na quina do quarto, as cuecas estavam lavadas, remendadas e arrumadas numa caixinha. As crianças estavam limpas e as panelas brilhando no estaleiro.’

Ou seja, nem no dia da morte do marido ela poderia ter se atrasado em nenhuma obrigação, ou teria perdido o INPS para terminar de criar os filhos! Mas ninguém se preocupou em saber se estava doente, cheia de varizes, se seus dentes ou a alma, estavam corroídos de desgosto.”

Sem dúvida, nas últimas décadas, as mulheres avançaram muito, tiveram significativos  ganhos sociais e políticos, porém, por outro lado, conforme as estatísticas, na relação saúde e violência, elas continuam necessitando de melhor acolhimento, cuidados e atenção por parte da família (maridos, filhos, netos...) e dos governantes.

Aliás, conforme a Associação Americana de Medicina, na mulher, o estresse produzido por viver em situação de violência constante pode causar transtornos de apetite, sono, fadiga, déficit de atenção, disfunção sexual, dores abdominais e gastrointestinais, problema ginecológicos e outros sintomas.

Médicos e enfermeiros indicam que enfermidades crônicas como asma, epilepsia, diabetes, artrites, hipertensão, e doenças coronarianas são exacerbadas ou precariamente controladas em mulheres que sofrem violência. Mais ainda: um parceiro violento pode usar do poder e controle dentro da relação para limitar o acesso a cuidados de saúde de rotina ou de emergência, proibir a obtenção ou o uso de medicamentos e o prosseguimento do tratamento de doenças crônica (cânceres e outras). Acrescente-se ainda que pesquisas têm demonstrado que mulheres submetidas à violência estão mais  suscetíveis a contraírem o vírus   HIV.

A verdade é que, nestes últimos quarenta anos, se por um lado verificou-se incontestável e surpreendente evolução social, econômica e política das mulheres ocidentais, por outro constatou-se aumento na exposição delas a fatores de risco de doenças cardiovasculares, pulmonares, cânceres e outras. Hoje, em muitos países, proporcionalmente as mulheres estão consumindo mais cigarros que os homens. Com o alcoolismo, não tem sido diferente. O aumento de mulheres alcoolistas aumentou consideravelmente nas últimas décadas.

Mediante a realidade atual, pode-se dizer que o argumento de artigo da Veja, lá de 1994, continua com validade: “A mulher brasileira precisa manter a forma, criar os filhos, evitar que novos apareçam, fazer do corpo uma pilha que não acaba para suas várias jornadas de trabalho. Tudo ao mesmo tempo: cólicas menstruais, hormônio sintético, crises de ansiedade e calmantes.”

Com tantos afazeres a mulher negligencia suas dores do coração. E assim essas dores vão evoluindo e sendo desvalorizadas por elas e pelos profissionais de saúde. São poucos os que percebem a sintomatologia iniciante, as causas dessas dores.  De repente o infarto, uma... duas fisgadas no peito... a ligação para o SAMU... a correria para o hospital. E na antessala, familiares, amigos e curiosos reconhecem, por unanimidade, valores da paciente: essa mulher cuidou mais dos outros do que dela própria, ela foi uma esposa e mãe de família exemplar, viveu sempre a serviço da família, do trabalho e acabou esquecendo-se de dar mais atenção a sua saúde! Fala-se no passado como se a paciente fora a óbito.

O cardiologista João Nussbacher assegura que, “além da maior prevalência de fatores de risco para doença miocárdica e de haver particularidades biológicas próprias do sexo feminino, o coração da mulher é diferente.”

Encerramos esse ensaio com essa reflexão da médica cearense, Maria Angélica Malveira,  (autora do livro: "Porque dói o coração da mulheres.") quando diz: [...] “E o coração vai doendo devagarinho, vai mostrando sinais, provocando palpitações, faltando ar; o coração de todo modo, vai projetando a sua plena existência: padece, se contrai, se alegre, dói e adoece”.

Isso posto, torcemos para que - todos nós homens e mulheres - tomemos mais consciência e adquiramos mais conhecimentos, competência e habilidade para tratarmos, respeitarmos, valorizarmos e cuidarmos cada vez mais e melhor das dores visíveis e invisíveis do coração das mulheres.


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