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segunda-feira, 8 de abril de 2013

Suicídio na Paraíba: um problema carente de discussão


Inácio A. Torres

Há poucos dias escrevemos um texto sobre o suicídio, no qual enfatizávamos que essa atitude não se tratava de coragem, nem de covardia. É puramente uma situação de desespero. E lembrávamos que o filósofo e novelista inglês, Colin Henry Wilson, aos 16 anos abandonou a escola e tentou matar-se. Depois, superou esse trauma e tornou-se um escritor consagrado, respeitado e lido na Inglaterra e em várias partes do mundo.
Ao reportar-se sobre o tema jamais imaginei que na Paraíba fosse o mesmo um problema de tão grande magnitude. Numericamente, conforme artigo de Joel Cavalcanti, publicado no jornal Contraponto, edição de 15 a 21/03/2013, a cada dois dias, uma pessoa suicida-se em nosso estado.
De acordo com o Ministério da Justiça da Paraíba/MJP e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística/IBGE, na Paraíba, em 2005 suicidaram-se 104 pessoas; em 2008, cento e cinquenta e seis, e em 2012, cento e noventa e sete. Nos meses de janeiro e fevereiro de 2013, conforme dados do Instituto de Polícia Científica/IPC, foram registrados 38 novos casos, o que comparado ao esse mesmo período do ano passado, representa 52% a mais.
Essas mesmas instituições informam que em 2012, quando o estado contava com 3.815.171 habitantes, o índice de suicídios por cada 100 mil habitantes era de 5,16. Em 1998, esse índice era de 1,5; e que João Pessoa ocupa a décima terceira colocação entre as capitais com maior número de suicídios.
Em João Pessoa, a equipe de emergência do Hospital de Traumas, atende a cada dois dias, um paciente que tentou suicidar-se. A Organização Mundial de Saúde/OMS avalia que a consumação de suicídios é aproximadamente vinte vezes menor que as tentativas. No caso da Paraíba, contabilizando-se a quantidade de tentativas de suicídios nos últimos doze meses, concluiu-se que quatro mil e duzentas pessoas buscaram por fim a própria vida. Um número superior a população de cinqüenta e duas cidades paraibanas.  
Na opinião do psiquiatra Roberto Mendes, psiquiatra do Hospital Juliano Moreira, essa situação deve-se a “uma sociedade que está adoecendo (...) estamos falhando em cuidar do sentido de vida das pessoas”.
Para o psicanalista Augusto Cury o sistema educacional está doente no mundo todo. Doente formando pessoas doentes para uma sociedade doente. Ensina-se ver detalhes do pequeno átomo que nunca verão, o espaço imenso e planetas onde nunca pisarão, mas não ensina a saber conhecer o planeta psíquico, que todos os dias andamos, vivemos e respiramos. Com isso estamos fadados ao insucesso.
Suicídio é um problema complexo para o qual não existe uma única causa, sendo resultado da interação de fatores sociais, biológicos, genéticos, culturais, psicológicos e até ambientais. Embora o comportamento suicida seja inexplicável, para a OMS a maioria dos suicídios pode ser prevenida. Mas para isso é preciso uma certa preparação para identificar e agir diante de um suicida em potencial. A primeira providência é recomendar procurar tratamento psicoterápico. Procurar um psicólogo, um psicoterapeuta, um psiquiatra.
Em nossa opinião o diálogo e os encontros familiares melhoram o modo de vida das pessoas. A solidariedade, o respeito, a forma de aceitação do outro também contam muito para a promoção de uma mente saudável.
Uma consulta com um psicólogo, psiquiatra ou psicanalista é sempre útil para qualquer pessoa. A participação em práticas integrativas como constelação familiar, terapia comunitária, reflexologia e outras, contribui muito para o equilíbrio emocional dos humanos.


Medicalização só não resolve as dores da alma. Aliás o Brasil destaca-se como grande consumidor de antidepressivos e ansiolíticos. Trata-se de um negócio bastante rentável cuja comercialização ultrapassa quarenta e dois milhões de caixas e movimenta  R$ 1, 85 bilhão. É como se um a cada cinco brasileiros tomasse esses remédios.
Infelizmente o povo brasileiro foi medicalizado. A indústria farmacêutica – na maioria multinacional que só visa o lucro - juntamente com alguns profissionais da saúde, balconistas, donos de farmácias e a própria mídia medicalizaram as pessoas. Esse mal terrível atinge desde a criancinha até os idosos. O idoso brasileiro toma, em média, três a cinco medicamentos diariamente.
Por isso tem razão o Dr. Roberto Mendes quando, reportando-se aos ansiolíticos e antidepressivos, diz: as pessoas buscam viciosamente um subterfúgio através dos medicamentos (...) muitos estão se medicando de forma errada e isso seria o mesmo que buscar o uso de drogas e álcool para se entorpecer”. Tanto o ansiolítico (...) como a maconha ou o crack são, na verdade, a mesma coisa: uma fuga”.
Sobre isso não há dúvida. As pesquisas comprovam que cerca de 33% dos casos de suicídio estão associados intimamente à dependência de álcool, sendo este um importante fator indutor do suicídio. E a própria Organização Mundial de Saúde/OMS calcula que de 5% a 10% das pessoas dependentes do álcool terminam sua vida pelo suicídio.
Conclusão. O suicídio é um tema que não deve ser tabuizado em nenhum ambiente. Ele existe em nosso meio, constitui-se em um problema sério e que se agrava a cada dia junto a família, a escola, a sociedade e até no trabalho. Portanto precisa ser mais debatido. Aliás, os dados apresentados nesse ensaio compõem a prova incontestável dessa necessidade, pois, na Paraíba, o Suicídio é um problema carente de discussão.  

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