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sábado, 29 de junho de 2013

ABUSO SEXUAL EM CRIANÇAS



Iara da Silva Machado

Toda criança traz em si a mensagem de que Deus não desanima (Tagore)

{É} obrigação dos adultos manter as crianças longe dos perigos, mas isso só é possível se eles tiverem informações suficientes para avaliar quando uma criança está em perigo, afirma Tink Palmer, Oficial de Normas e Práticas da Barnardo, a maior instituição de caridade voltada para crianças do Reino Unido.

Adultos e crianças costumam ter concepções errôneas quanto ao ASC, alimentadas pelos casos de grande divulgação na mídia que geram medo e ansiedade incontroláveis, e apesar disso, não servem para ajudar a proteger as crianças. É crucial separar os fatos da ficção e dissipar os mitos e esteriótipos do ASC.

Falar sobre o ASC elimina o segredo e o silêncio que o ocultam, garantindo que não permaneça escondido.

As crianças precisam ser protegidas de adultos e de crianças mais velhas que se aproveitam delas ou as manipulam para ter contato sexual.

Para garantir a segurança de todas as meninas e meninos é essencial mudar da reação para a prevenção, o que acontecerá por meio de campanhas de saúde pública e educação, apoiadas por mudanças no sistema judiciário criminal e na legislação.

No Reino Unido, por exemplo, a Lei de Crimes Sexuais proposta pelo governo, em vigor desde 1º de maio de 2004, lida com muitas das preocupações em torno do ASC, em especial o uso da Internet para distribuir pornografia infantil e para propiciar o aliciamento sexual de crianças.

O modo como a sociedade lida com abusadores sexuais e suas vítimas também de importância crucial. Questões de tratamento e reabilitação precisam ser abordadas de maneira apropriada e financiadas adequadamente para garantir a segurança das crianças. Proteger crianças é uma responsabilidade de todos os adultos e, como tal, da comunidade da qual vivem. Só quando toda comunidade estiver envolvida na proteção de crianças é que será transmitida uma mensagem clara e unificada de que a sociedade não tolerará o abuso sexual em crianças.

Segue alguns mitos e realidade sobre o abuso sexual em crianças:

MITO: O abuso sexual em crianças não é tão comum quanto as pessoas pensam.

REALIDADE: O ASC ocorre em geral com uma entre quatro garotas e com um entre seis garotos. Muitos pesquisadores acreditam que esses números representam apenas a ponta do iceberg, visto que muito do ASC é ocultado, pois algumas crianças nunca revelam o abuso ou ele jamais chega ao conhecimento dos serviços sociais, da polícia ou do sistema judiciário criminal.

MITO: As meninas correm mais risco de abuso sexual do que os meninos.

REALIDADE: Ainda que os dados atuais indiquem que as meninas correm mais risco de abuso sexual do que os meninos, isso também pode ser a ponta do iceberg, pois o ASC pode levar meninos a se sentirem mais confusos quanto a sua sexualidade, tornando mais difícil a revelação do ASC em uma cultura homofóbica.

MITO: O abuso sexual em crianças ocorre apenas em certas comunidades/culturas/classes

REALIDADE: O ASC ocorre em todas as culturas, comunidades e classes. O perigo dessa crença é o de que, por acreditarmos que o abuso só ocorre em certos tipos de ambiente, ignoramos a realidade do problema em nossa comunidade e vizinhança, o que pode levar as pessoas a não acreditarem que o ASC pode acontecer com qualquer criança e que todas as crianças correm risco.

MITO: Estranhos abusam sexualmente de crianças.

REALIDADE: Esse mito faz parte da mitologia sobre o “perigo dos estranhos”. A pesquisa atual mostra que, em aproximadamente 87% dos casos, o abusador é alguém conhecido da criança (vizinhança, comunidade, família) e que tem a confiança dela. A realidade é que garotas e garotos correm mais risco de sofrerem abuso sexual por parte de algum conhecido deles do que por parte de um estranho.

MITO: Abusadores sexuais de crianças são fáceis de serem reconhecidos.

REALIDADE: Abusadores sexuais de crianças provêm de todos os tipos de classes sociais, grupos étnicos e faixas etárias. Eles parecem pessoas normais, ou seja, saudáveis psicologicamente, como todas as outras. São membros da comunidade local e pertencem a todo tipo de profissões, tais como juízes, advogados, médicos, membros do clero, policiais, professores e homens de negócios, encanadores, motoristas de caminhão e aqueles que trabalham com crianças. É praticamente impossível apontar um abusador sexual de crianças em uma multidão.

MITO: Mulheres não abusam sexualmente de crianças.

REALIDADE: a pesquisa sugere que aproximadamente 20% a 25% dos ASC são perpetrados por mulheres. As crianças abaixo de 5 anos são as que mais correm risco de serem abusadas por mulheres. Normalmente isso ocorre em locais onde se cuida de crianças ou quando uma babá toma conta delas. Esse abuso é em grande parte não detectado por causa da pouca idade da criança e pelo fato de algumas atividades sexuais serem conduzidas em torno de práticas de higiene comuns.

O melhor meio de proteger as crianças é conhecer e compreender o ASC. Não descrevemos aqui todos os mitos e realidades sobre o ASC, mas nos propomos a levantar o véu para descortinar ilusões acerca do universo infantil que por vezes é mutilado, inclusive pelo silêncio das famílias que aturdidas com as revelações não sabem o que fazer para retomar a vida com qualidade, após experiências mutiladoras como estas.

As crianças têm o direito de viver em um mundo em que não sejam mais vulneráveis ao abuso e a exploração sexual, em um mundo no qual possam confiar em vez de ter medo; de amar e serem amadas na segurança de uma vida com a presença da energia da alegria.


Texto adaptado do livro ABUSO SEXUAL EM CRIANÇAS. Christiane Sanderson. M.Books. São Paulo: 2008.




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