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sexta-feira, 21 de junho de 2013

Onde estava escondida essa raiva coletiva?

Por Thais Herédia

“Eu ligo a televisão não para ver só as manifestações, mas para ver se vai aparecer alguém para dizer o que vai acontecer com o país”, disse dona Aparecida, prestadora de serviços em São Paulo.
A falta de liderança impressiona mais do que a intensidade das manifestações. Desde o primeiro ato em São Paulo, no dia 6 de junho, a aparição dos governantes foi confusa e contraditória, mas principalmente insuficiente. A escalada dos protestos revelou que o oxigênio dos cidadãos é muito maior do que a competência emocional e política de quem governa o Brasil. E mais, que não há partidos políticos com poder ou moral capaz de unir tanta gente.
Pelas redes sociais fica claro que o movimento popular gerou dois tipos distintos de reação. Eu me identifico com os dois. A maioria das pessoas está emocionada com o engajamento, a volta do “povo para rua”, com o levante por todos os motivos que precisam e merecem atenção: a corrupção, os problemas na educação, na saúde, os gastos com a Copa do Mundo, a surdez do Congresso Nacional, e a lista segue.
A segunda reação é de perplexidade. O vandalismo choca. Onde estava escondida essa raiva coletiva? Atrás do “bem-estar” tão comemorado pelo governo com desemprego em baixa recorde e renda em alta? As cenas de quebradeira e tentativas de invasão de prédios públicos me deram tristeza. Não só pelo patrimônio, mas pela sensação de que estávamos todos um pouco cegos e surdos.
O gatilho do levante popular foi o aumento das tarifas de transporte público, em São Paulo, abaixo da inflação acumulada. A inflação em alta vem corroendo o bolso dos brasileiros há meses, o que provocou queda na popularidade da presidente Dilma Rousseff.
Mesmo assim, estamos muito longe do que vivemos num passado não muito distante. Em 2002, o índice oficial de preços chegou a mais de 12%, o país passava por uma das piores crises de confiança de sua história, o desemprego era mais do que o dobro de hoje, havia uma insatisfação politica que foi corroborada com a vitória de Lula à presidência da República, colocando o PT à frente do país pela primeira vez.
Em 10 anos, o Brasil melhorou seus fundamentos econômicos, tirou a dívida pública do risco, a inflação ficou sob controle, o próprio governo não para de comemorar a ascensão de 40 milhões de brasileiros à classe média. Lula fez sua sucessora e deixou o país com a marca de um PIB “chinês” de 7,5%.
Era tudo fantasia? Há dois anos as cortinas vêm caindo e revelando um país sem liderança na condução da economia, da política e agora da sociedade. Eu, dona Aparecida e milhões de brasileiros estamos esperando aparecer alguém para dizer o que vai acontecer com o Brasil.

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