Iara da Silva Machado
Toda criança traz em si a
mensagem de que Deus não desanima (Tagore)
{É} obrigação dos
adultos manter as crianças longe dos perigos, mas isso só é possível se eles
tiverem informações suficientes para avaliar quando uma criança está em perigo,
afirma Tink Palmer,
Oficial de Normas e Práticas da Barnardo, a maior instituição de caridade
voltada para crianças do Reino Unido.
Adultos e crianças costumam ter concepções errôneas
quanto ao ASC, alimentadas pelos casos de grande divulgação na mídia que geram
medo e ansiedade incontroláveis, e apesar disso, não servem para ajudar a proteger
as crianças. É crucial separar os fatos da ficção e dissipar os mitos e
esteriótipos do ASC.
Falar sobre o ASC elimina o segredo e o silêncio que
o ocultam, garantindo que não permaneça escondido.
As crianças precisam ser protegidas de adultos e de
crianças mais velhas que se aproveitam delas ou as manipulam para ter contato
sexual.
Para garantir a segurança de todas as meninas e
meninos é essencial mudar da reação para a prevenção, o que acontecerá por meio
de campanhas de saúde pública e educação, apoiadas por mudanças no sistema
judiciário criminal e na legislação.
No Reino Unido, por exemplo, a Lei de Crimes Sexuais
proposta pelo governo, em vigor desde 1º de maio de 2004, lida com muitas das
preocupações em torno do ASC, em especial o uso da Internet para distribuir
pornografia infantil e para propiciar o aliciamento sexual de crianças.
O modo como a sociedade lida com abusadores sexuais
e suas vítimas também de importância crucial. Questões de tratamento e
reabilitação precisam ser abordadas de maneira apropriada e financiadas
adequadamente para garantir a segurança das crianças. Proteger crianças é uma
responsabilidade de todos os adultos e, como tal, da comunidade da qual vivem.
Só quando toda comunidade estiver envolvida na proteção de crianças é que será
transmitida uma mensagem clara e unificada de que a sociedade não tolerará o
abuso sexual em crianças.
Segue alguns mitos e realidade sobre o abuso sexual
em crianças:
MITO:
O abuso sexual em crianças não é tão comum quanto as pessoas pensam.
REALIDADE: O ASC ocorre em geral
com uma entre quatro garotas e com um entre seis garotos. Muitos pesquisadores
acreditam que esses números representam apenas a ponta do iceberg, visto que muito do ASC é ocultado, pois algumas crianças
nunca revelam o abuso ou ele jamais chega ao conhecimento dos serviços sociais,
da polícia ou do sistema judiciário criminal.
MITO:
As meninas correm mais risco de abuso sexual do que os meninos.
REALIDADE: Ainda que os dados
atuais indiquem que as meninas correm mais risco de abuso sexual do que os
meninos, isso também pode ser a ponta do iceberg,
pois o ASC pode levar meninos a se sentirem mais confusos quanto a sua
sexualidade, tornando mais difícil a revelação do ASC em uma cultura
homofóbica.
MITO:
O abuso sexual em crianças ocorre apenas em certas comunidades/culturas/classes
REALIDADE: O ASC ocorre em todas
as culturas, comunidades e classes. O perigo dessa crença é o de que, por
acreditarmos que o abuso só ocorre em certos tipos de ambiente, ignoramos a
realidade do problema em nossa comunidade e vizinhança, o que pode levar as
pessoas a não acreditarem que o ASC pode acontecer com qualquer criança e que
todas as crianças correm risco.
MITO:
Estranhos abusam sexualmente de crianças.
REALIDADE: Esse mito faz parte da
mitologia sobre o “perigo dos estranhos”. A pesquisa atual mostra que, em
aproximadamente 87% dos casos, o abusador é alguém conhecido da criança
(vizinhança, comunidade, família) e que tem a confiança dela. A realidade é que
garotas e garotos correm mais risco de sofrerem abuso sexual por parte de algum
conhecido deles do que por parte de um estranho.
MITO:
Abusadores sexuais de crianças são fáceis de serem reconhecidos.
REALIDADE: Abusadores sexuais de
crianças provêm de todos os tipos de classes sociais, grupos étnicos e faixas
etárias. Eles parecem pessoas normais, ou seja, saudáveis psicologicamente,
como todas as outras. São membros da comunidade local e pertencem a todo tipo
de profissões, tais como juízes, advogados, médicos, membros do clero, policiais,
professores e homens de negócios, encanadores, motoristas de caminhão e aqueles
que trabalham com crianças. É praticamente impossível apontar um abusador
sexual de crianças em uma multidão.
MITO:
Mulheres não abusam sexualmente de crianças.
REALIDADE: a pesquisa sugere que
aproximadamente 20% a 25% dos ASC são perpetrados por mulheres. As crianças
abaixo de 5 anos são as que mais correm risco de serem abusadas por mulheres.
Normalmente isso ocorre em locais onde se cuida de crianças ou quando uma babá
toma conta delas. Esse abuso é em grande parte não detectado por causa da pouca
idade da criança e pelo fato de algumas atividades sexuais serem conduzidas em
torno de práticas de higiene comuns.
O melhor meio de proteger as
crianças é conhecer e compreender o ASC. Não descrevemos aqui todos os mitos e
realidades sobre o ASC, mas nos propomos a levantar o véu para descortinar
ilusões acerca do universo infantil que por vezes é mutilado, inclusive pelo
silêncio das famílias que aturdidas com as revelações não sabem o que fazer
para retomar a vida com qualidade, após experiências mutiladoras como estas.
As crianças têm o direito de
viver em um mundo em que não sejam mais vulneráveis ao abuso e a exploração
sexual, em um mundo no qual possam confiar em vez de ter medo; de amar e serem
amadas na segurança de uma vida com a presença da energia da alegria.
Texto adaptado do livro ABUSO
SEXUAL EM CRIANÇAS. Christiane Sanderson. M.Books. São Paulo: 2008.