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domingo, 9 de fevereiro de 2014

Suspeito que diz ter repassado rojão em protesto é preso no Rio

Foto;jb
No sábado (8), Fábio havia sido indiciado pela polícia como coautor dos crimes de explosão e tentativa de homicídio qualificado. Um segundo homem, suspeito de jogar o artefato, ainda estava sendo procurado pela polícia na manhã deste domingo.
O cinegrafista foi ferido em ato contra o aumento das passagens de ônibus, quinta-feira (6), perto da Central do Brasil. Santiago foi ferido na cabeça e teve afundamento de crânio. Até as 8h50 deste domingo, Santiago seguia em coma no Hospital Municipal Souza Aguiar. O estado de saúde dele era grave.
"Nosso principal objetivo é identificar o elemento que efetivamente deflagrou o artefato que atingiu o Santiago. Nas imagens, ele [Fábio Raposo] repassa o petardo para aquele que deflagrou. O fotógrafo do jornal O Globo que presenciou [o momento] vai poder dizer se o Fábio tentou acender ou não", disse o delegado Maurício Luciano, durante coletiva no sábado.  Ele afirmou, ainda, acreditar que o depoimento dado pelo tatuador na madrugada deste sábado é "inverossímil".
"Ele estava extremamente nervoso, gaguejando. Ele diz que não conhece o outro e as imagens mostram que eles tinham uma certa intimidade. Tudo que ele falou não se coaduna com as imagens", completou o delegado.
Fábio Raposo se apresentou na manhã de sábado na 16ª DP (Barra da Tijuca) e disse que segurou o artefato, mas que não o acendeu. Após ver as imagens gravadas pela TV Brasil, o delegado Fábio Pacífico, adjunto da 17ª DP e também responsável pela investigação, afirmou que a declaração de Raposo é "fantasiosa".
A Polícia Civil está analisando as imagens do Comando Militar do Leste, da CET- Rio, da Supervia, da BBC, da TV Brasil e as do próprio Santiago para tentar identificar o rapaz.
José Pedro Costa, diretor do Departamento Geral de Polícia da Capital, também esteve na coletiva de sábado. "A gente acredita que ele [Fábio Raposo] é partícipe. Quando ele entrega o artefato, ele sabe que vai ser deflagrado, por isso ele está sendo tratado como coautor", explicou o delegado titular.
Detido outras vezes
Fábio Raposo já esteve detido duas vezes, sempre por algo ligado às manifestações, segundo a polícia. Uma delas foi registrada na 5 ª DP (Mem de Sá) no dia 7 de outubro de 2013. Na ocasião, o tatuador foi fichado pelos crimes de dano ao patrimônio público e associação criminosa.

Em uma outra ocorrência, registrada no dia 22 de novembro de 2013 na 14ª DP (Leblon), Raposo foi autuado pelo crime de ameaça.
Ligação com black blocs
Segundo o delegado, não é possível dizer ainda que os suspeitos são black blocs. “Eles não estavam com uma vestimenta característica dos black blocs. Ambos estavam de camiseta cinza. A gente está vendo nas imagens se eles já estavam caminhando juntos antes de provocarem esse crime.” O delegado contou, ainda, que Raposo diz não ter relação com nenhum grupo ideológico. “A gente não pode taxá-lo de black bloc. A gente vai fazer uma investigação em redes sociais ouvindo pessoas para ver se ele realmente integra essa organização.”

O delegado pedirá também auxílio da DRCI para saber se há a possibilidade de investigar trocas de mensagens de Raposo através do Facebook e então chegar ao autor da deflagração do explosivo que atingiu o cinegrafista.
Os repórteres Luana Alves e Carlos Alberto Silva, da editoria de jornalismo local da TV Globo no Rio de Janeiro, registraram com exclusividade o depoimento do rapaz que se apresentou na 17ª Delegacia de Polícia (São Cristóvão).
"Meu nome é Fábio. Eu estava ontem [quinta-feira] na manifestação contra o aumento das passagens. Sim, era eu. As fotos que foram apresentadas nas mídias era eu, sim. Eu era o [homem] de camisa, bermuda e tênis, com as tatuagens, era eu, sim. Era eu passando o artefato para o outro indivíduo, mas o artefato não era meu, eu quero deixar isso bem claro. O artefato não era meu", afirmou o suspeito, que tem a panturrilha tatuada.
"Logo que eu cheguei, houve um corre-corre. Fui até lá para ver o que tinha acontecido. Estava tendo um confronto entre manifestantes e alguns policiais militares. Daí, jogaram uma bomba de gás lacrimogêneo próximo a mim. Eu coloquei a minha máscara de gás, que é mais para minha proteção mesmo, porque machuca o peito e arde o rosto, e foi isso. Eu cheguei, fui até lá, vi que estava tendo um confronto entre a polícia e os manifestantes. Nesse corre-corre, vi que um rapaz correndo deixou uma bomba cair. Uma bomba, não sei o que é, um negócio preto assim. Daí, eu peguei e fiquei com ela na mão. Esse outro cara veio e falou para mim: 'Passa aí para mim, que eu vou e jogo. Eu vou e jogo'. Eu peguei e passei para ele. Foi só isso mesmo", disse Raposo.
Ele ressalta que participa de manifestações forma pacífica. "Eu em momento algum vou para as manifestações para quebrar as coisas e bater em policial, jogar pedra, não sei. É isso. Não fui eu, eu não tive a intenção de machucar nenhum repórter", afirmou.
O manifestante afirmou ter ficado assustado com a repercussão do caso e disse que foi pressionado a admitir a participação. "Só estou vindo aqui mesmo porque estou assustado demais. A minha foto foi divulgada até em mídias internacionais. Já recebi ligações de pessoas desconhecidas, não sei se são grupos ou o que são, pedindo para eu assumir o caso e falar que fui eu, tentando me obrigar. É isso. Não fui eu mesmo. Eu quero o bem do repórter que está em coma, a família dele, tudo. Não sei o que falar, mas é isso. Melhoras, cara", disse o rapaz.
Raposo garantiu que não conhece o jovem que pegou o artefato e o viu somente na manifestação. "Ele era um cara alto, chamava bastante atenção. Ele estava com uma camisa na cara, preta. Ele chamava bastante atenção, mas não tenho ideia de quem seja. Eu fui sozinho na manifestação", revelou.
"Foi um acaso mesmo, de ver o negócio no chão, pegar para tentar devolver, achando que era algum pertence de alguém, mas infelizmente era uma bomba e ele acendeu de uma forma que foi em cima do repórter", contou o rapaz, dizendo acreditar que o manifestante que acendeu o rojão não teve intenção de ferir o cinegrafista. "Acredito que ele não tenha feito por mal. Acredito que foi um acaso de ele estar filmando, os cinegrafistas ficam no meio do fogo cruzado."
O suspeito afirmou que sabe que o estado do cinegrafista é grave. "Eu estou torcendo para ele sair dessa, foi algo surreal, que não deve acontecer nunca, não pode acontecer mais. Os repórteres devem se respeitados. Eles têm o direito de estar ali, como os manifestantes também têm. Acho que ele vai sair dessa, torço para ele sair dessa", destacou.
Sobre o manifestante que acendeu o rojão, Raposo disse achar que ele vai arcar com as consequências "de ter ido lá, de ter acendido e ter pego em um repórter inocente que não tem nada a ver com esse clima, com essa tensão, entre polícia e manifestante".
Imagens feitas pela TV Brasil  mostram, à direita do vídeo, a dupla de manifestantes caminhando. Os dois têm um pano amarrado no rosto. O rapaz da direita veste calça jeans e uma camisa cinza bastante suada. À esquerda dele, está um jovem mais baixo, também com camiseta cinza, mas de bermuda preta. Ele tem uma tatuagem grande na panturrilha esquerda. Na sequência do vídeo, o rapaz de bermuda parece passar algo para o outro, mas não é possível identificar o quê. Os dois então se misturam a um grupo maior.
Ao fundo da imagem, aparece o cinegrafista Santiago Andrade, da TV Bandeirantes, vestindo uma camiseta vermelha e com a câmera no ombro. Enquanto isso, no canto direito, está o jovem de camiseta cinza suada e calça jeans. A gravação termina logo depois, no momento em que o rapaz parece se abaixar.
Estado de sáude
Ás 17h deste sábado (8), o cinegrafista Santiago Andrade, que foi atingido na cabeça, continuava internado em coma no Centro de Terapia Intensiva (CTI) do Hospital Municipal Souza Aguair, no Centro. O estado de saúde da vítima era grave.

O paciente respirava por aparelhos. Segundo o hospital, ele teve um afundamento craniano e passou por uma cirurgia na cabeça, que durou 4 horas e foi considerada "bem-sucedida" pelos médicos. Segundo informações da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), com a operação foi possível conter a hemorragia na cabeça do cinegrafista e controlar a pressão no crânio.
G1

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