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sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Mentor da Liga Pela Paz fala sobre o cenário da educação e como melhorar os índices de aprendizagem



João Roberto de Araújo


João Roberto de Araújo, mestre em psicologia, autor de vários livros que trabalham a temática emoções, criador da Liga pela Paz, metodologia de ensino implantada em 19 estados brasileiros, já percorreu o mundo para beber na fonte as particularidades de cada cultura e assim fortalecer seus conhecimentos e defender como saída a educação emocional e social para os conflitos contemporâneos.

Durante sua visita à Paraíba (17 e 18 de dezembro 2014), oportunidade em que fez a entrega ao governador Ricardo Coutinho do relatório das atividades da Liga Pela Paz, tendo também na sua agenda proferindo palestra para educadores das 14 gerências de educação, o professor João Roberto de Araújo concedeu entrevista e falou sobre o futuro da educação pela emoção, índices de aprendizagem, mudanças e perspectivas da Liga na Paraíba.

Professor João Roberto de Araújo, que análise o senhor faz do cenário da Liga Pela Paz hoje no Brasil?

 João: É um cenário muito positivo, otimista, porque as lideranças políticas, educacionais percebem que a educação emocional e social é o maior desafio da educação nesse século. E, às vezes, isso é difícil de compreender. Nós ainda vivemos uma busca com pouca reflexão na direção de melhorar os índices de aprendizagem. Esta é a grande obsessão de uma liderança da educação ou de uma liderança política, seja o governo do estado, sejam os prefeitos ou os próprios gestores que estão nas escolas, que têm essa demanda muito forte. É preciso melhorar os índices de aprendizagem.  

É preciso que uma criança, que um aluno se desenvolva na linguagem matemática e em todos esses conteúdos de linguística. Isso é muito importante, ampliar a compreensão sobre o texto, escrever melhor, é preciso desenvolver a matemática, que não é somente números, é um desenvolvimento lógico no cérebro, na mente de nossas crianças. Então não devemos negar esse interesse da melhoria dos índices de aprendizagem, porque revelam uma melhoria na reflexão, no desenvolvimento das nossas crianças, de nossos adolescentes, nossos jovens.  

No entanto é preciso colocar uma pergunta muito importante: Como fazer para melhorar esses índices? Quais são as abordagens que a ciência já sinaliza como importantes para melhorar a aprendizagem em linguagem, em matemática, etc.?

Hoje temos a confiança, a segurança que o caminho mais seguro para uma criança aprender melhor qualquer conteúdo é o estado emocional dela. Isso vale para nós adultos também. Quando estamos emocionalmente melhores, desenvolvemos mais competências emocionais para lidar com a ansiedade, com o medo, a raiva, o ciúme. Quando aprendemos sobre as emoções que nos mobilizam mais, adquirimos uma competência para colocar, ao mesmo tempo, mais atenção nos conteúdos. Nas crianças esses estados emocionais ajudam a desenvolver aqueles tais índices de aprendizagem que são desejáveis.

As pesquisas científicas patrocinadas pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura ) apontam que o melhor caminho para a criança aprender matemática, linguagem, dimensão lógica e cognitiva é melhorar o clima emocional da escola. Isso é um fato que estou sempre lembrando por que senão podemos correr o risco de ter tanta fome de melhorar os índices de aprendizagem e continuarmos patinando sem considerar o alicerce do desenvolvimento que são as emoções.

 A meta da Liga Pela Paz é criar uma cultura de paz nas escolas. Como criar essa cultura nas famílias que apresentam graves problemas de funcionamento?

João: Eu penso que a escola do futuro terá dois olhares para a educação. Um olhar para dentro, para a sala de aula, para a gestão interna da escola, para a pedagogia e para a didática. É o olhar convencional de melhoria do ensino-aprendizagem dentro da escola. Mas a escola do futuro terá também um olhar pra fora, para a comunidade, para a família, porque uma pergunta que devemos responder com mais consciência é quem educa a família? Nós sabemos que a família precisa de mais conhecimento. Ela tem um nível de desinformação muito grande e essa família é muito importante na educação de nossas crianças.

 Mas quem é responsável pela educação dessas famílias? São muitos os atores. Há o vereador do bairro, a associação do bairro, a mídia, que tem um papel muito importante, mas a escola não está fora da responsabilidade da educação de pais, de adultos de referência, que são os líderes dentro dessas famílias. E eu, inclusive, penso que está reservado para a escola o principal papel na educação da família. Só que nós precisamos estruturar a escola, dar condições para que ela possa olhar para fora.  

Hoje nós temos um professor sobrecarregado, às vezes, com as demandas de sala de aula. Ele não tem disponibilidade muito grande para planejar um processo de encontros com as famílias. Até por que as famílias têm horários de encontros diferentes dos horários dos filhos. Às vezes só podem no fim da tarde, ou à noite. Dessa forma eu imagino que a escola de futuro, além desse olhar pra dentro, terá também que desenvolver um olhar pra fora, que é o olhar de educação para a família e criar um corpo de profissionais (um pedagogo, um sociólogo, psicólogo, um assistente social, um comunicador etc) que tenha o papel de olhar para as famílias, mas que esteja no contexto da escola e que seja interface entre as famílias e o professor que está em sala de aula.

Hoje o trabalho com a família está muito eventual, muito esporádico, muito forçado e muito sofrido. Quando pensarmos, no futuro, em criar uma escola no bairro, no planejamento, refletiremos que ela precisará de professores para olhar para dentro, mas também de educadores para olhar para fora. Até mesmo a arquitetura da escola vai se repensada para poder ser o espaço que acolhe pais e mães, não apenas para convidá-los a puxar orelha em relação às dificuldades que os filhos têm. Por que hoje existe um trauma; quando um pai é avisado para ir à escola ele sofre porque o estão chamando para uma crítica em relação ao desempenho do filho. A escola tem que transcender esse processo e vencer esse grande desafio do diálogo comunidade-escola e conquistar parceria dos pais e das famílias que também tem essa responsabilidade. Mas o desenvolvimento das famílias não vai cair do céu. Vai sair da própria escola do bairro! Acredito que a escola seja a área mais privilegiada, mais legitimada para trabalhar com a família.

Que avaliação o senhor faz da culminância dos trabalhos da Liga Pela Paz na Paraíba?

João: Tivemos a experiência em 2014 quando os dados levantados pelos próprios educadores, em uma sistematização científica de pré-teste e pós-teste, demonstram resultados muito positivos, tanto na aquisição de habilidades emocionais e sociais quanto na redução de comportamentos problemáticos. Isso mostra que as respostas não são só em longo prazo, elas já aparecem hoje, no curto prazo. Nós temos nesse último informativo, que foi divulgado aqui na Paraíba, os dados da melhoria na aquisição de comportamentos habilidosos e a redução de comportamentos problemáticos.

O que vai acontecer daqui para frente, com a continuidade desse processo, é que isso vai se reverter em melhoria nos índices de  aprendizagem. Já temos uma resposta no sentido do aluno ser mais feliz, de conviver melhor. E isso vai redundar na melhoria da aprendizagem.

Quais as expectativas da Inteligência Relacional em relação à parceria com o Governo do Estado da Paraíba?

Pelos resultados obtidos em 2014, não só numericamente, mas pelo envolvimento e motivação dos educadores, a nossa expectativa é de que um esforço como esse tenha continuidade. Acreditamos que a educação emocional e social seja institucionalizada na rede e ampliada para outros alunos e, de forma particular, chegue às famílias e comunidade.


Marcos Eugênio

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